Para responder
às próximas questões leia o trecho da Carta de Caminha a seguir.
Senhor:
Posto que o
Capitão-mor desta vossa frota, e assim os outros capitães escrevam a Vossa Alteza
a nova
do achamento
desta vossa terra nova, que ora nesta navegação se achou, não deixarei também
de dar disso
minha conta a
Vossa Alteza, assim como eu melhor puder, ainda que — para o bem contar e falar
— o
saiba pior que
todos fazer. (…)
Viu um deles
[índio] umas contas de rosário, brancas; acenou que lhas dessem, folgou muito
com elas,
e lançou-as ao
pescoço. Depois tirou-as e enrolou-as no braço e acenava para a terra e de novo
para as
contas e para o
colar do Capitão, como dizendo que dariam ouro por aquilo.
Isto tomávamos
nós assim por assim o desejarmos. Mas se ele queria dizer que levaria as contas
e
mais o colar,
isto não o queríamos nós entender, porque não lho havíamos de dar. E depois
tornou as
contas a quem
lhas dera. (…)
Parece-me gente
de tal inocência que, se homem os entendesse e eles a nós, seriam logo
cristãos,
porque eles,
segundo parece, não têm, nem entendem em nenhuma crença.
E portanto, se
os degredados, que aqui hão de ficar aprenderem bem a sua fala e os entenderem,
não
duvido que
eles, segundo a santa intenção de Vossa Alteza, se hão de fazer cristãos e crer
em nossa santa fé, à qual praza a Nosso Senhor que os traga, porque, certo,
esta gente é boa e de boa simplicidade. E
imprimir-se-á
ligeiramente neles qualquer cunho, que lhes quiserem dar. E pois Nosso Senhor,
que lhes
deu bons corpos
e bons rostos, como a bons homens, por aqui nos trouxe, creio que não foi sem
causa.
Portanto Vossa
Alteza, que tanto deseja acrescentar a santa fé católica, deve cuidar da sua
salvação. E
prazerá a Deus
que com pouco trabalho seja assim.
Eles não
lavram, nem criam. Não há aqui boi, nem vaca, nem cabra, nem ovelha, nem
galinha, nem
qualquer outra
alimária, que costumada seja ao viver dos homens. Nem comem senão desse inhame,
que
aqui há muito,
e dessa semente e frutos, que a terra e as árvores de si lançam. E com isto
andam tais e tão rijos e tão nédios, que o não somos nós tanto, com quanto
trigo e legumes comemos. (…) e a terra por
cima toda chã e
muito cheia de grandes arvoredos. (…) De ponta a ponta, é toda praia parma,
muito chã e
muito formosa.
Pelo sertão nos
pareceu, vista do mar, muito grande, porque, a estender olhos, não podíamos ver
senão
terra com
arvoredos, que nos parecia muito longa.
Nela, até
agora, não pudemos saber que haja ouro, nem prata, nem coisa alguma de metal ou
ferro;
nem lho vimos.
Porém a terra em si é de muito bons ares, assim frios e temperados como os de
Entre
Douro e Minho,
porque neste tempo de agora os achávamos como os de lá.
Águas são
muitas; infindas. E em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar,
dar-se-á nela
tudo, por bem
das águas que tem.
Porém o melhor
fruto, que nela se pode fazer, me parece que será salvar esta gente. E esta
deve ser a
principal
semente que Vossa Alteza em ela deve lançar. (…)
Beijo as mãos
de Vossa Alteza.
Deste Porto
Seguro, da Vossa Ilha de Vera Cruz, hoje, sexta-feira, primeiro dia de maio de
1500.
Pero Vaz de
Caminha
(1ª Olimpíadas Nacional de História do Brasil – 2009)
5. Assinale
dentre as alternativas, aquela que considerar errada.
A) Na carta ao
rei de Portugal Pero Vaz de Caminha descreve a terra encontrada.
B) O documento
descreve uma população nativa que o autor narra como generosa e gentil, e por
este
motivo deve ser
cuidada.
C) A carta
indica ao rei de Portugal formas de se apossar de riquezas e de expandir o
cristianismo.
D) A carta
indica que os índios produziam seus alimentos em roças e criavam rebanhos para
seu sustento.
(1ª Olimpíadas Nacional de História do Brasil – 2009)
A carta de Pero
Vaz de Caminha foi recuperada pela historiografia nacional principalmente
durante o
século XIX. Foi
re-editada e tornou-se de grande interesse, considerada a “certidão de
nascimento” do
Brasil.
6. Assinale a
alternativa errada:
A) Foi
considerado o primeiro documento escrito sobre o Brasil.
B) Pero Vaz de
Caminha foi o único a dar a boa nova do achamento do Brasil.
C) Não foi por
meio deste documento os portugueses declararam a posse do Brasil.
D) Descreve a
natureza e as gentes.
7. Assinale a
alternativa que mostra uma conclusão correta da leitura.
A) Para o
autor, a melhor coisa que se pode fazer nestas terras é plantar.
B) Para o
autor, os maiores interesses do rei são metais preciosos e expandir a fé
católica.
C) Para o
autor, as terras narradas não darão lucro algum, apenas trabalho.
D) Para o
autor, não importa se o rei de Portugal queria estas terras, já há pessoas
morando nela e ele defende a idéia
que ela pertence aos seus moradores.
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