segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Os dois ratinhos - Fábula recontada por Ana Maria Machado

Os dois ratinhos - Fábula recontada por Ana Maria Machado




Era uma vez dois ratinhos. Bom, na verdade, eram dois camundongos, desses bem pequeninos que vivem nas casas velhas. E era mesmo onde eles moravam, numa casa de fazenda que já tinha sido de avós e bisavós de gente. Por isso, a madeira cedia lugar, o reboco descascava em outro, um pedacinho de taipa caía mais adiante... Era uma maravilha de moradia para ratinhos e camundongos. Havia túneis pelas paredes, amplas avenidas no forro e vastos descampados no porão, além de ruas e vielas por todo esqueleto da casa.
Pois uma dessas ruas é a que nos interessa – e era que a que mais interessava a eles. A que desembocava na cozinha.
Uma noite, os dois camundongos saíram para um passeio na cozinha. Era sempre uma festa.
Tinha lingüiça no fumeiro por cima do fogão de lenha.
Tenha chouriço pendurado na despensa.
Tinha queijo na prateleira.
Tinha um saco de fubá num canto.
Tinha tanta coisa para comer que nem dá para lembrar tudo.
Os dois ratinhos se banquetearam, se empanturraram, até se fartarem. Depois, deu sede. Mas um deles ainda tinha lugar na barriga para comer mais um bocadinho. Enquanto discutiam se já deviam ir beber água ou não, viram uma tigela imensa, coberta por um pano de prato de beiradas bordadas em ponto de cruz.
Foram olhar de perto. Era leite, que a cozinheira deixara para fazer coalhada. Uma tigela cheinha, quase transbordando.
Pronto! Era a solução! Assim, matavam a sede e o restinho de fome ou gulodice ao mesmo tempo.
Mas, quando se equilibraram na borda da tigela para beber, um deles perdeu o equilíbrio e plaft! O segundo ratinho também caiu.
Começaram a tentar sair. Mas era difícil, a borda da tigela escorregava. E eles estavam pesados, de barriga cheia. Nadaram e se debateram, mas não dava para se apoiarem e saírem. Foram nadando, se debatendo e ficando cansados.
Um deles simplesmente desistiu. O Outro resolveu que não ia entregar os pontos. Nadava, nadava, mesmo que fosse em círculos, só para não para de lutar. Quando cansava muito, boiava ou se agarrava à borda e depois voltava a nadar. Passou assim a noite toda.
De manhã, quando a cozinheira chegou à cozinha e levantou o pano de prato bordado que cobria a tigela de coalhada, teve duas surpresas. Lá dentro tinha um camundongo morto. Mas a surpresa maior foi essa. Foi ver que a coalhada tinha virado manteiga, de tanto ser batida. E por cima havia, muito nítido, um caminho feito de rastros – as pegadas frescas de um ratinho que saíra caminhando sobre a manteiga e fora embora.

Moral: se é fábula, tem que ter moral, mas eu prefiro que você a descubra.

Interpretação:
1. Em que lugar acontece a história? Como você descobriu?
2. Você sabe a diferença entra rato e camundongo?
3. O texto dia que um dos ratinhos não ia “entregar os pontos” . O que você entendeu com isso?
4. Se a fábula ilustra o comportamento dos homens, que espécie de pessoas os camundongos estão representando?
5. A autora termina o texto sugerindo que você descubra a moral da história. Descobriu? Qual é ?

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