Simulado: Indisciplina: alternativas teóricas e práticas - Júlio Groppa Aquino (1996)
01. (VUNESP/2013) Aquino (1996) afirma que “ a indisciplina na escola aparece sob todas as formas de conflito que incorporam uma capacidade de __________ dos pequenos grupos e expressam-se quer sob uma aparente submissão, quer através dos excessos de todos os tipos. Num caso o indivíduo está completamente __________ em relação a um controle central, abstrato, anônimo; noutro, as potencialidades de cada um são reconhecidas e integradas em um conjunto.”
Assinale a alternativa que, de acordo com o autor, preenche, correta e respectivamente, as lacunas do texto.
(A) adaptação … independente
(B) resistência … dependente
(C) persistência … alheio
(D) organização … resistente
(E) alienação … enfraquecido
02. (VUNESP/2014) Júlio Groppa Aquino, in Aquino (1996), apresenta o fenômeno da indisciplina como, talvez, o “inimigo número um do educador atual”, presente nas escolas públicas e particulares. Circunscreve o tema como interdisciplinar e transversal à Pedagogia, apontando a indisciplina como um sintoma de “outra ordem que não a estritamente escolar, mas que surte no interior da relação educativa”. O autor conclui que as diversas leituras do fenômeno findam por implicar uma análise transversal que leva a enxergar a saída
(A) por uma razoável valorização da educação de antigamente que, com uma militarização difusa, baseada no medo, na coação e na subserviência, fazia do professor um modelador do aluno e resultava em rendimento escolar satisfatório.
(B) pelo reconhecimento de que a indisciplina traz um rebaixamento da qualidade da educação escolar, obrigando a escola a receber, pela ampliação das vagas, os filhos das classes populares, com seus modos inadequados ao trabalho escolar.
(C) pela exigência às famílias, por parte da escola, de que elas se incumbam de providenciar a introjeção de determinados padrões morais apriorísticos que levem ao reconhecimento e respeito da autoridade externa.
(D) pelo reconhecimento e pela aceitação de que a escola precisa atender o crescente número de alunos sem pré-requisitos morais e disciplinares e, por isso, faz-se urgente reinstalar o componente curricular “educação moral e cívica”.
(E) pela instauração de uma “nova” ordem pedagógica que restaure a função epistêmica da escola e coloque o conhecimento no centro do cenário educativo, situando o objeto a ser aprendido, dialogicamente, “entre” os que ensinam e os que aprendem.
03. (VUNESP/2014) Áurea Maria Guimarães, in Aquino (1996), contribui com uma reflexão que se inicia perguntando: “Será que a indisciplina e a violência são sempre indesejáveis, ou teríamos de considerar a ambiguidade desses termos?”.
Esclarece que buscou, nas ideias de Michel Maffesoli, “algumas noções referentes à violência, à ordem, à desordem, à lógica do dever-ser versus a do querer-viver, nas quais a ambiguidade aí presente, em vez de se mostrar como defeito, possibilita pensar a vida social, levando-se em conta a multiplicidade das situações”.
Concordando com o ponto de vista defendido pela autora, pode-se concluir que
(A) com o advento da escola de massas, existe um conjunto de histórias tão diversificadas que pode dificultar a socialização dos alunos, sendo necessária uma ação de padronização ancorada no “deve ser”, nos objetivos iguais para todos para que, como nos velhos tempos, se alcance sucesso na formação de pessoas de bem e instruídas.
(B) é preciso encontrar equilíbrio entre os interesses dos alunos e as exigências da instituição e dar início ao despontar de uma solidariedade interna, que engendre uma luta pelo coletivo e crie uma comunidade de trabalho, flexibilizando o tempo e o espaço do território escolar e mantendo a possibilidade de dissidências e debates.
(C) é válido todo esforço para eliminar a tensão entre os comportamentos espontâneos, licenciosos, com os quais os alunos chegam, e a ordem do espaço escolar, a qual retrata e representa a ordem social externa, mesmo que para isso se faça uma experiência de “liberar geral” para que eles vejam as consequências e peçam as regras da instituição.
(D) quando há respaldo para implantar a “tolerância zero” para indisciplina e/ou violência, as discordâncias deixam de ser objeto de negociação, todos se unem em torno do que foi definido igualmente para o grupo, sem injustiças nem favoritismos; então as “panelas” se desestruturam, e o trabalho escolar, em torno do conhecimento, flui normalmente.
(E) o firme propósito de eliminar a indisciplina e a violência, ou de colocá-las fora do espaço escolar, abriu caminho para que os educadores escolares solicitassem a ajuda técnica de especialistas, seja para orientação e capacitação deles próprios ou para atender, individualmente, os alunos a eles encaminhados devido a seu comportamento discrepante mais grave.
04. (VUNESP/2014) França, in Aquino (1996), trabalha o tema da indisciplina levando em conta que a sociedade moderna transformou os interesses da esfera privada, ligados à sobrevivênciada espécie, em interesses coletivos, levando a um encurtamento do espaço público. Diante desse contexto, a autora propõe que a sala de aula pode e deve ser:
• campo político de conexão do homem com o mundo e seu futuro: lugar de experimentar, na existência de cada um, os elementos da cultura: saberes, atitudes, valores, crenças e interesses;
• lugar de um trabalho infatigável para aprender a viver a vida inteira, transformá-la numa obra de arte, conferindo durabilidade ao mundo, avaliando as consequências dos conhecimentos construídos, no redirecionamento de nós mesmos e do mundo, visando a uma certa perfeição.
Isso tudo porque ela
(A) aponta a indisciplina como matéria do trabalho ético e político e a desejável disciplina como resultado dele.
(B) aponta a indisciplina que enfrentamos hoje como herança ética e política do período militar, isto é, revanche ao processo repressivo.
(C) entende a escola como um espaço neutro na política e na ética, terminando o direito de cada um onde começa o do outro.
(D) concebe a disciplina, que garante a ordem e o silêncio, como condição para que o aluno aprenda os conteúdos acadêmicos.
(E) aponta a disciplina como matéria do trabalho educativo familiar, berço da ética de cada um e fonte de modelos.
05. (VUNESP/2014) O professor Manoel argumenta que tenta passar os conteúdos para os alunos, mas eles não aprendem porque são desinteressados, apáticos, não prestam atenção, fazem bagunça, comportam-se de forma desrespeitosa etc. Considerando os estudos de Aquino (1996) e analisando o fato na perspectiva de que as interações professor versus aluno se pautam no estatuto do próprio conhecimento, uma nova ordem pedagógica precisa ser instalada. Nesse sentido, segundo o autor,
(A) é importante uma relação autoritária que favoreça a memorização dos conteúdos pelos alunos.
(B) o trabalho do aluno deve se assemelhar ao do professor, na medida em que aquele tem que reproduzir
o conhecimento armazenado pela humanidade.
(C) o professor deve ter controle sobre o comportamento do aluno, pois a obediência e a resignação são catalisadores do ato de conhecer.
(D) uma conduta austera do professor é necessária, porque é ele o responsável pelas relações pessoais em
sala de aula.
(E) é importante o professor reinventar continuamente os conteúdos, as metodologias e a relação, porque isso também é conhecimento.
05. (VUNESP/2014) O professor Manoel argumenta que tenta passar os conteúdos para os alunos, mas eles não aprendem porque são desinteressados, apáticos, não prestam atenção, fazem bagunça, comportam-se de forma desrespeitosa etc. Considerando os estudos de Aquino (1996) e analisando o fato na perspectiva de que as interações professor versus aluno se pautam no estatuto do próprio conhecimento, uma nova ordem pedagógica precisa ser instalada. Nesse sentido, segundo o autor,
(A) é importante uma relação autoritária que favoreça a memorização dos conteúdos pelos alunos.
(B) o trabalho do aluno deve se assemelhar ao do professor, na medida em que aquele tem que reproduzir
o conhecimento armazenado pela humanidade.
(C) o professor deve ter controle sobre o comportamento do aluno, pois a obediência e a resignação são catalisadores do ato de conhecer.
(D) uma conduta austera do professor é necessária, porque é ele o responsável pelas relações pessoais em
sala de aula.
(E) é importante o professor reinventar continuamente os conteúdos, as metodologias e a relação, porque isso também é conhecimento.
GABARITO
01 - B
02 - E
03 - B
04 - A
05 - E
por André Wagner Rodrigues - Instituto EDUCAR PARA A LIBERDADE
Disponível em: <http://www.historiaemperspectiva.com/2011/09/indisciplina-na-escola-alternativas.html>
Acesso em: 20 maio 2015
Resumo do texto: A desordem na relação professor-aluno: Indisciplina, moralidade e conhecimento. In:______ AQUINO, Julio Groppa (org.).Indisciplina na Escola: alternativas teóricas e práticas. São Paulo: Summus, 1996.
O que é Indisciplina?
Entende-se por indisciplina os comportamentos disruptivos graves que supõem uma disfunção da escola. Os comportamentos indisciplinados simplesmente obedecem a uma tentativa de impor a própria vontade sobre a do restante da comunidade. [...] Também se entende por indisciplina as atitudes ou comportamentos que vão contra as regras estabelecidas, as normas do jogo, o código de conduta adotado pela escola para cumprir sua principal missão: educar e instruir. Então, muitas vezes, o problema consiste em que não existem tais normas, a escola funciona de acordo com um código não-escrito, conhecido somente por poucos, o qual não é divulgado entre a comunidade escolar”. (CASAMAYOR apud AQUINO, 2006, pg. 15)
O que se sabe e sobre a Indisciplina Escolar?
Sabe-se claramente que a Indisciplina constitui uma das queixas reinantes quanto ao cotidiano não apenas de professores, mas também de pais.
Se trata de um fenômeno escolar que ultrapassa fronteiras socioculturais e também econômicas.
Deixaram de ser encarados como eventos esporádicos para se tornarem, uma das razões nucleares do alegado desgaste ocupacional dos profissionais da Educação.
Parece ter relação imediata com o estilo de ação do professor, mostrando-se como resposta a falta de autoridade ou ao seu excesso.
Em todos os casos o que parece estar em pauta é a afronta – declarada ou não – aos códigos normativos em vigor na Instituição.
Não se trata de um fenômeno exclusivo da Escola Pública.
O ápice do fenômeno parece se dar, na maioria das vezes, entre a etapa final do ensino Fundamental e o início do ensino Médio.
Temática, que tomou entre nós, maior visibilidade a partir dos anos 1990.
A maioria dos educadores não sabe ao certo como administrar o ato indisciplinado (dialogar? Punir? Encaminhar? Ignorar?)
O que se suspeita sobre a Indisciplina escolar?
Suspeita-se que a Indisciplina discente seja um fenômeno típico da adolescência, e esta caracterizada pelo questionamento e dos valores impingidos pelo mundo adulto.
Manifestação de uma agressividade latente dirigida contra as figuras de autoridade, agressividade gerada pela “desestruturação” do ambiente familiar (prejuízos psíquicos difusos).
Más influências a que as novas gerações foram expostas (o excesso de televisão, de internet, etc.)
Supõe-se que, centrando os esforços em torno dos “casos graves”, poder-se-ia livrar os alunos medianos da ameaça de serem corrompidos por hábitos avessos aos bons costumes.
A escola poderia fazer muito pouco, ou quase nada, contra a degradação da sociedade contemporânea, simbolizada pela indisciplina generalizada das novas gerações.
O que estaria acontecendo com a educação brasileira atualmente? Qual é o papel da Escola para a sua clientela e seus agentes? Afinal de contas, sua função primordial seria a de veicular os conteúdos classicamente preconizados ou tão-somente conformar moralmente os sujeitos a determinadas regras de conduta?
O papel essencial da escolarização é atender a dimensão epistêmica do ensino.
Dimensão socializante da escola
Dimensão profissionalizante???
O olhar sócio-histórico: a Indisciplina como força legítima de resistência
Iniciemos examinando um texto bastante curioso de 1922, intitulado Recommendações Disciplinares:
[...] A disciplina é fator essencial do aproveitamento dos alumnos e indispensável ao homem civilisado. [...] Os alumnos devem apresentar minutos antes das 10 horas, observando-se em ordem no corredor da entrada, para dahi descerem ao pateo onde entoarão o cantico. [...] Em classe a disciplina deverá ser severa: - os alumnos manterão entre si silêncio absoluto; não poderá estar de pé mais de um alumno; não deverão ser atirados no chão papeis ou quaesquer cousas que prejudiquem o asseio da sala; [...] serão retirados do recreio ou sofrerão a pena necessária os alumnos que gritarem, fizerem correrias, danificarem as plantas ou prejudicarem o asseio do páteo com papeis, cascas de fructas, etc.
Tempos antigos para uma demanda diferente...
Esta escola do passado é, ainda para muitos, o modelo almejado...
Medo, coação, subserviência. É isto que devemos saudar?
A estrutura e o funcionamento escolar então espelhavam o quartel, e o professor, um superior hierárquico. Uma espécie de militarização difusa parecia, assim, definir as relações institucionais como um todo.
Ora, com a crescente democratização do país e, em tese, a desmilitarização das relações sociais, uma nova geração se criou.
Os parâmetros que regem a escolarização ainda são regidos por um sujeito abstrato, idealizado e desenraizado dos condicionantes sócio-históricos.
Ela (a Indisciplina) pode estar indicando o impacto do ingresso de um novo sujeito histórico, com outras demandas e valores, numa ordem arcaica e despreparada para absorvê-la plenamente.
Olhar psicológico: Indisciplina como carência psíquica infra-estrutural
Numa perspectiva genericamente psicológica, a questão da indisciplina estará inevitavelmente associada à idéia de uma carência psíquica.
O reconhecimento da autoridade externa (do professor no caso) pressupõe uma infra-estrutura psicológica, moral mais precisamente, anterior à escolarização.
Permeabilidade de regras comuns; partilha de responsabilidades, cooperação, reciprocidade, solidariedade, etc.
O aluno atual carece de tais parâmetros, pois nota-se: agressividade/rebeldia; ou apatia/indiferença, ou, ainda, desrespeito/falta de limites.
Que se trata, supostamente, de um sintoma de relações desagregadoras, incapazes de realizar a contento sua parcela no trabalho educacional das crianças e adolescentes. Um esfacelamento do papel clássico da instituição familiar, enfim.
Relação professor-aluno como recorte
O que deve regular a relação é uma proposta de trabalho fundamentada intrinsecamente no conhecimento. Por meio dela, pode-se fundar e/ou resgatar a moralidade discente na medida em que o trabalho do conhecimento pressupõe a observância de regras, de semelhanças e diferenças, de regularidades e exceções.
Este trabalho de incessante indagação, no trabalho científico, não requer que o aluno seja estático, calado, obediente. O trabalho do conhecimento, pelo contrário, implica a inquietação, o desconcerto, a desobediência. A questão fundamental está na transformação desta turbulência em ciência.
Por uma nova ordem pedagógica
È preciso, pois, reinventar continuamente os conteúdos, as metodologias, a relação.
Esta guinada na compreensão e no manejo disciplinares vai requere enfim, uma conduta dialógica por parte do educador, pois é ele quem inaugura a intervenção pedagógica.
O ofício docente exige a negociação constante, quer com relação às estratégias de ensino ou avaliação, quer com relação aos objetivos e até mesmo aos conteúdos preconizados – sempre com vistas à flexibilização das delegações institucionais e das formas relacionais.
Quesitos principais dessa relação:
Investimento nos vínculos concretos (onde essa relação é foco principal)
Fidelidade ao contrato pedagógico – que este seja razoável para ambas as partes.
Permeabilidade para mudança e para a invenção – reaprender seu ofício e reinventar seu campo de conhecimento a cada encontro.
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